sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A criança dentro de mim


Essa semana tive o privilégio de voltar a levar as minhas irmãs pra escola depois de quase 2 meses de férias. Não digo isso pelo fato de ter que acordar tão cedo (essa é a parte ruim), mas porque elas estudam no bairro onde fui criada até os meus 17 anos, um lugar que me traz muitas lembranças lindas e é o meu ambiente favorito para me encontrar com Deus.
Desde que me entendo por gente, uma das minhas maiores paixões sempre foi estar no meio da natureza, subir em árvores, fazer trilhas, andar descalça na terra e viver grandes aventuras. Na minha imaginação de criança, costumava dizer que queria ser igual o Tarzan: viver na mata, pular de árvore em árvore, comer o que a natureza oferecesse e tomar banho no rio. Graças a Deus tive o privilégio de viver algumas aventuras parecidas nesse bairro que cresci, que é cercado por uma beleza natural incomparável: bosques, lagoas, muitas arvores, animais e bichos distintos.

Se você acompanha o meu blog há um tempo, sabe que gosto muito de me lembrar da minha infância, de escrever sobre ela, de refletir. Acredito que muitas experiências que tive nessa primeira fase da vida, principalmente os sonhos que faziam o meu coraçãozinho suspirar, as coisas da vida que mais em encantavam, com o que eu gastava mais o meu tempo... tudo isso foram apontamentos do que eu viria a ser em Deus, dos propósitos que Ele tinha pra mim.
Volta e meia o Senhor me dá uma lição, palavra, direção ou consolo através de certas lembranças da Suelen criança. Hoje mesmo pela manhã vivi isso.

Apesar de ter recebido tanta graça de Deus durante a minha história, de ter compreendido que o Seu amor vai além do que eu possa fazer ou deixar de fazer, em alguns momentos ainda me pego debaixo de uma pressão do desempenho pessoal. Pensamentos de inadequação e frustração comigo mesma ainda invadem minha mente algumas vezes, me fazendo agir como se eu precisasse me esforçar para ser aceita por Deus.
Fui dormir assim ontem. E acordei hoje travando essa luta em meu interior.
Depois de levar a minha irmã caçula pra escola, passei num lugar que fazia muito tempo eu não passava, mas que minhas lembranças de criança conheciam muito bem.
Foi muito rápido. Apenas um vislumbre. Olhei em direção a uma paisagem formada de árvores, plantas, arbustos, raios de sol cortando as folhas e fazendo o orvalho brilhar como cristal. Tudo em harmonia com aquela brisa fresca e nova da manhã que eu sentia em minha pele. Por apenas aquele instante, parecia que meu coração de 23 anos estava sendo trocado pelo coração da Suelen criança, talvez uns 9 anos. Me vi andando naquele jardim de mãos dadas com Jesus, do jeitinho que eu gostava de imaginar - "Tudo está bem. Ele está aqui comigo. Não há nada pra me preocupar." Em poucos segundos fui invadida por um encantamento com a vida e sonhos se renovando dentro de mim, trazendo em meus olhos um brilho característico de fé e ternura, me fazendo receber a maravilhosa libertação da graça de Jesus.
Era uma daquelas contemplações silenciosas, mas onde tudo é dito, sabe? Em menos de um minuto recebi tantas palavras do Pai que sugaram as ansiedades, preocupações e pressões que eu estava sentindo. Percebi que Ele estava restaurando certas coisas, sonhos, que Ele havia me dado quando criança, e que eu havia deixado se perder com o passar dos anos.

Nós até podemos nos esquecer, mas Deus nunca esquece! Ele nunca se esquece do porquê nos criou. Nunca esquece os propósitos para os quais Ele nos fez nascer. Nunca esquece os sonhos que Ele mesmo plantou em nosso coração infantil, pra que fosse desenvolvido e crescesse juntamente conosco.
Acredito de todo o meu coração que sonhos são para ser vividos sim. Quando algum deles é enterrado, é como um capítulo importante de um livro sendo rasgado - alguém até poderá ler a história, mas algo não fará sentido, algo estará faltando.

Gosto de me lembrar da Suelen criança que não tinha medo de sonhar, pois ela inspira a Suelen adulta a continuar firme, a despeito das circunstâncias; a continuar sonhando e acreditando, pois seja num deserto ou num belo jardim, Jesus está andando de mãos dadas comigo. Sim, aquelas mãos carinhosas e olhar repleto de ternura me convencem: "Está tudo bem. Ele está aqui comigo. Não há nada pra me preocupar."

Não há limites para se sonhar. E também não há limites para se viver a sua concretização. Pois o nosso Grande Doador de Sonhos nos garante:

"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, e nem sequer se penetrou em mente humana o que Deus tem preparado par aqueles que o amam!" (1Co 2.9)

Quero ser uma eterna criança sonhadora, espontânea e totalmente dependente do Pai!
Tu sempre serás o Artista. E eu, a Composição, Jesus!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Espiritualidade e a minha Humanidade



Quando se fala de “espiritualidade”, qual a primeira imagem ou conceito que vem à mente? Lembro bem da minha adolescência... A maneira como eu costumava me relacionar com Deus. Eu pedia que Ele fizesse de mim uma pessoa super-espiritual, e me esforçava o máximo pra que isso acontecesse. Eu queria ter algo diferente de Deus na minha vida, algo que todos ao meu redor percebessem. Queria que alguém, quando apenas olhasse pra mim, fosse constrangido com tamanha presença de Deus. Isso ocorria porque na minha cabeça uma pessoa espiritual era quase um zumbi, alguém de outro mundo, intocável pelas coisas terrenas e humanas. Mas com o passar dos anos, de acordo com que eu ia crescendo e aprendendo mais de Cristo, aprendi também algumas lições valiosas a respeito da simplicidade do Evangelho e, naturalmente, a simplicidade da verdadeira espiritualidade.
Quanto mais me relacionava com Jesus e procurava conhecê-lo, mais entendia o quanto Ele era simples, e o quanto andar com Ele podia ser tão natural, constante, prazeroso e espontâneo como uma criança que anda pela calçada dando pulinhos de alegria e sorrisos enquanto conversa com o papai. Aos poucos, fui me despindo (até hoje) da religiosidade que eu nem sabia existir em mim, e que era uma grande barreira para a verdadeira espiritualidade que eu tanto buscava.

O tempo em missões na África que Deus me proporcionou foi essencial para estabelecer em meu ser uma linda verdade sobre a minha relação com Ele: a verdadeira espiritualidade tem tudo a ver com a minha humanidade!
Aprendi com o povo africano de uma forma muito profunda o quanto Jesus participa da nossa realidade. Ele está sempre conosco, em nossa rotina. Ele sabe muito bem o que é ter os pés sujos de poeira, sabe o que é passar fome e sede, sabe o que é estar exausto depois de um dia todo trabalhando debaixo de um sol ardente. Ele se identifica com tudo o que diz respeito a nós. Jesus sempre demonstrou tamanha simplicidade e humanidade em todo o Seu agir, falar e ensinar. Quem diria ser possível comer um peixinho assado na beira da praia com o Deus encarnado, hein? Os discípulos que o digam! Acontece que, com o passar dos anos, muitas vezes deixamos essa simplicidade e pureza ir embora da nossa espiritualidade. E juntamente com a idade adulta, vem o racionalismo e orgulho que nos roubam o encanto. Jesus falou que seria preciso nos tornar como crianças para entrarmos no Reino de Deus. Por que será?

Quando leio os Evangelhos percebo que o que mais chamava a atenção de Jesus era a fé das pessoas. Ele parava tudo quando via algum coração cheio de fé. As crianças são assim! Não há nada impossível na mente delas. Elas são capazes de correrem grandes perigos com muita alegria, porque acreditam que tudo ficará bem. E quando se trata da relação delas com Jesus, ao orarem, creem de todo o coração que Ele está ouvindo e sabem que vai acontecer o que pediram. Elas não têm a intenção de fazer coisas pra serem mais amadas, elas apenas sabem que Deus as ama, porque alguém disse. E isso é suficiente.

Creio que a verdadeira espiritualidade – aquela onde Jesus é o centro, o foco e a razão – não é essa coisa complexa e distante como muitas vezes ouvimos ou lemos nos livros. Não é também o que a religião prega. Mas é simplesmente um relacionamento de amor e afeto com Jesus! É algo espontâneo e verdadeiro como uma criança. É um estilo de vida de alguém que tem a certeza de ser lavado pelo sangue de Cristo; de alguém que tem a segurança de pertencer a um Deus que é incansável em amar; de alguém que é livre, pois foi perdoado e não carrega mais nenhuma condenação sobre si!

Todos nós, em algum momento da vida (ou vários), precisamos fazer um caminho de volta. Os anos passam e com eles às vezes deixamos o que era vital passar. Ás vezes será preciso deixarmos de ser adultos demais na nossa relação com Jesus e voltarmos a ser crianças! Isso não quer dizer ser infantil. Mas simplesmente resgatar aquelas características da qual Jesus falou que precisávamos para entrar no Reino, para ver o Reino, pra nos movermos de acordo com o Reino.

A espiritualidade cristocêntrica não é feita de regras religiosas que nos oprimem. A espiritualidade que se centraliza em Jesus nos liberta, nos torna mais humanos e acessíveis às pessoas. Ela não nos exclui do mundo, mas nos ensina a nos relacionarmos com ele.


Foi esse o exemplo que o Mestre nos deixou!