segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ciclos e estações da vida


"À medida em que os anos passam parece que a gente vai aprendendo que nossa história é marcada por estações e ciclos. Esses tempos que começam e terminam, e que têm características específicas, servem ao cumprimento dos propósitos de Deus para cada época de nossas vidas. É como se entrássemos em novos níveis de descanso ou desafio de acordo com o crescimento e a capacitação que temos para suportar aquilo que vamos enfrentar. Deus não nos chama para algo sem nos capacitar; e a cada estação Ele promete estar ao nosso lado, ajudando-nos e guiando-nos, para o cumprimento de Seus propósitos." (Ana Paula Valadao Bessa)

Como essas palavras fazem sentido pra mim atualmente! Tenho entendido mais do que nunca o quanto minha vida é formada por ciclos e estações.

E tenho observado também que, quase sempre, a transição de um ciclo para o outro é marcado por uma passagem num lugar chamado: DESERTO.

Posso caracterizar o deserto como um lugar seco, quente, solitário, onde a pessoa se sente fraca, desiludida, às vezes tendo alucinações de coisas que tanto deseja, como por exemplo, uma fonte de água fresquinha logo à frente; ela dá alguns passos pensando que finalmente encontrou um refrigério, quando descobre que era apenas uma ilusão,e aí entra a frustração.

Eu nunca estive num deserto, falando de espaço geográfico. Mas com certeza já passei por desertos espirituais, e posso dizer que me sinto dentro de um deles neste atual tempo.

A sensação de perda é muito grande. É como se não houvesse chão debaixo dos pés, é como se a vida estivesse passando agitada e sem sentido algum. Tudo fica ruim, qualquer motivo de esperança desaparece, e tudo o que conheço de Deus, cada promessa e Palavra que ouvi de Sua boca, é questionado em meu interior.

Mas há também uma verdade tremenda sobre o deserto que nunca podemos nos esquecer: é Deus quem nos leva até ele, e nos acompanha em cada passo. Foi assim com Jesus: "e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo Diabo." (Lc 4.1-2).
Lembro-me de ter passado por um deserto espiritual no ano posterior a minha conclusão do segundo grau na escola, e antecedeu o ano em que ingressei no seminário. Foi um dos desertos mais longos que eu já havia passado; durou cerca de um ano. Lembro-me de sentir-me profundamente vazia e distante de Deus, tentando descobrir o tempo todo o que eu havia feito de tão errado. Eu pedia perdão de tudo, achando que o meu estado era conseqüência de pecado, mas nada adiantava. Nem o arrependimento me fazia senti-Lo perto. Foi um ano onde simplesmente deixei morrer os sonhos mais lindos que eu tinha, e não eram quaisquer sonhos, eu sabia que eles haviam sido dados pelo próprio Deus, e eu não entendia porque Ele havia me deixado sonhar e investir pra depois tomar tudo de volta. Eu havia perdido a perspectiva de chamado, já nem conseguia crer que Deus poderia me usar pra algo especial.

Foi um tempo onde tudo ao meu redor perdeu o sentido, e o único sentido que restou foi crer que Ele era o único que podia me ajudar, mesmo parecendo tão distante e inalcançável.

Apesar de toda a sequidão, existia uma pequena âncora em minha alma que me dava algum alento nos momentos de maior desespero. Era uma lembrança de uma experiência muito pessoal e singular que tive com o Seu amor infalível semanas antes de entrar nesse deserto. Posso dizer que foi o que me sustentou, o que me impediu de desistir de tudo no processo.

Essa é outra verdade sobre o deserto: Deus sempre nos faz encontrar oásis no caminho. São momentos de refrigério, ou lembranças de experiências com Ele, ou Palavras que nos revelam o Seu caráter. E isso nos sustenta, renova a esperança. Pode parecer só uma gotinha de água comparado com a sequidão, mas é suficiente pra nos manter vivos, pra continuarmos caminhando em direção às grandes e novas coisas que Ele tem reservado para nós no fim do deserto.

O que posso testemunhar dessa minha passada experiência foi que, quando cheguei ao seminário, saindo da casa dos meus pais pela primeira vez, lá eu descobri que se eu não tivesse passado o que passei no ano anterior, eu não estaria preparada para o novo que Ele estava trazendo pra mim. Foi só então que descobri que Jesus nunca havia se afastado de mim, foi apenas um processo de deserto necessário para que eu estivesse despida de tudo o que pudesse me atrapalhar de receber as coisas maiores, o novo tempo que Ele já havia preparado. E como resultado do deserto, eu havia deixado pra trás as coisas velhas, e estava sendo banhada agora na cachoeira de Seu amor, sendo renovada e transformada numa nova pessoa, agora, com uma confiança Nele ainda maior!

De fato, acontece exatamente como a Palavra diz: "a prova de nossa fé produz perseverança, e a perseverança um caráter aprovado" (Tg 1.3).

O texto ficaria muito grande se eu fosse descrever também minha experiência atual de deserto, que tem sido marcado também pelo término de uma etapa e início de outra em minha vida. Mas creio que gastei maior tempo falando sobre um deserto passado, pois foi a lembrança dele que me sustentou neste atual. Creio que a nossa relação com Deus antes do deserto define muito como vamos passar por ele. Pois no meio da sequidão, quando não há mais nada pra se apegar, é a confiança em Seu caráter adquirida antes que nos sustenta.

A verdade fundamental é que o nosso Deus não muda. Seja no deserto ou na grama verdinha, Ele não muda! Não importa em que estação da vida estejamos, Jesus é sempre digno da nossa confiança, e quando Ele se torna o mais importante pra nós, passamos a não ligar muito para as dificuldades do processo, pois finalmente reconhecemos que Ele é tudo o que precisamos!

"Como são felizes os que em Ti encontram sua força, e os que são peregrinos de coração! Ao passarem pelo vale de Baca [lágrimas, seco], fazem dele um lugar de fontes; as chuvas de outono também o enchem de cisternas. Prosseguem o caminho de força em força, até que cada um se apresente a Deus em Sião." (Sl 84:5-7)

O Nosso Deus é o Deus dos vales e das montanhas; dos desertos e dos campos férteis. Quem há semelhante a Ele? Não existe!!!!

Um grande abraço aos meus irmãos peregrinos. O SENHOR é a nossa força e alegria!

Em Cristo,

Suelen

domingo, 9 de janeiro de 2011

Diário de uma adoradora em transformação

Desde que retornei de Guiné-Bissau tenho passado por um difícil processo de readaptação. As transformações que o Pai fez em meu interior foram tão intensas que às vezes nem consigo me reconhecer!
Quando olho dentro de mim, dentro da nova Suelen, fico um pouco assustada, pois vejo ela se despindo cada vez mais dos antigos "muros" de auto-proteção, dos refúgios emocionais para onde eu sabia muito bem correr toda vez que acontecia uma situação que eu não sabia lidar. Era assim o meu estilo de vida, eram assim as minhas reações diante das circunstâncias que tentavam me ensinar que a vida, na verdade, era dura, e não um conto de fadas.

Mas agora, depois da experiência em Bissau, o SENHOR tem me ensinado a entender a minha humanidade, a vivê-la com prazer e liberdade, da maneira que Ele me criou para ser!

Enquanto eu andava por aquelas ruas africanas, contemplando crianças brincando peladinhas na terra, outras comendo arroz em comunidade numa bacia; meninas lavando roupas de uma enorme família, com o rosto brilhando de suor; mães caminhando uma longa distância embaixo de sol, com um balde d'água na cabeça e filho nas costas; homens procurando qualquer trabalho para dar algo de comer à família... Eram assim todos os dias, não havia muita mudança de rotina. E quando eu contemplava tudo isso, andando por entre eles e fazendo muitas perguntas pra Deus, sentia o Espírito Santo falar docemente ao meu coração: "Eu estou aqui. Sim, estou aqui, com eles. Meu rosto também está suado, meus pés estão enlamaçados e grossos, em meu rosto há marcas de lágrimas como aquela criança que, ansiando por um alento, chora entre a poeira. Sim, eu estou aqui! Fique tranquila."

Aleluia! Sim, Jesus tinha de estar ali! Esse era o Evangelho, era sobre este povo, o povo humano, que a Bíblia se referiu, que Jesus morreu pra salvar!!

Eu me regozijava muito ao meditar nisso tudo, e pensava: "Poxa, acho que Jesus era mesmo bem parecido com este povo, afinal, Ele se identificou com o homem, e isso em toda a sua dura realidade. Não há nada que este povo sofre que Jesus não tenha sofrido também". E foi essa verdade que me sustentou e ensinou em meio as minhas próprias privações, dificuldades e sacrifícios. Descobri que realmente posso TODAS as coisas Naquele que me fortalece! Descobri que as dores e frustrações que envolvem a vida humana não são o centro... na verdade, essas coisas são muito pequenas comparadas ao amor, graça e presença de um Deus soberano que se identificou conosco na nossa pequenês e fragilidade, para nos alcançar, perdoar e salvar.

Jesus é o centro, e não as dificuldades! Por isso, quero cultuar Jesus, e não a dureza da vida! Quero oferecer sacrifícios de louvor e gratidão todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol, ao Deus de amor que é maior que a vida, que venceu o mundo com todas as suas aflições!

Quero viver sem medo de chorar, de sentir dor, de me cansar, de sentir-me frustrada... pois tenho aprendido que é justamente nessas coisas tão humanas que eu aprendo a verdadeira espiritualidade. E assim, posso ser realmente livre!!!

Não foi por deuses ou seres perfeitos que Jesus morreu e amou, mas foi por pessoas fracas, limitadas e pecadoras... como eu e você!

No amor do Mestre,

Suelen